O “DIREITO DOS BANHEIROS” NO STF

CONSIDERAÇÕES SOBRE O VOTO DO MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO NO RE N. 845779 COM FUNDAMENTO EM POST, SIEGEL E FRASER

Autores

  • Maria Eugenia Bunchaft UNISINOS

Palavras-chave:

Transexualidade, Constitucionalismo Democrático, Reconhecimento

Resumo

Este trabalho objetiva investigar o voto do Ministro Luís Roberto Barroso no julgamento do Recurso Extraordinário n. 845779 à luz dos referenciais teóricos de Post, Siegel e Fraser. Pretendo demonstrar que o argumento utilizado pelo Ministro Luís Roberto Barroso relativo ao papel contramajoritário do STF na proteção de grupos vulneráveis se aproxima dos pressupostos do Constitucionalismo Democrático defendido por Post e Siegel. Cass Sunstein, em One Case at a Time, desenvolve a teoria do Minimalismo Judicial, segundo a qual as Cortes devem solucionar apenas as questões específicas do caso em análise, evitando decidir de maneira ampla as matérias constitucionais controvertidas que não decorram de um consenso social. Diferentemente, para o Constitucionalimo Democrático, defendido por Robert Post e Reva Siegel, a Constituição e o direito constitucional são moldados em meio a interações discursivas entre o governo, o Congresso, as Cortes, as reivindicações dos movimentos sociais e os partidos políticos. A pesquisa delineia- se pelo método fenomenológico-hermenêutico, especialmente por se tratar de um método de abordagem que busca aproximar sujeito e objeto a serem pesquisados. Por fim, propugno que somente uma nova narrativa simbólica - um Constitucionalismo Democrático-Paritário - pode desmascarar assimetrias de poder decorrentes da própria esfera pública oficial e que se refletem em decisões judiciais vinculadas a concepções patologizantes e a narrativas heteronormativas.

Biografia do Autor

Maria Eugenia Bunchaft, UNISINOS

Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS. Pós-Doutora em Ética e Filosofia Política pela UFSC. Doutora e Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio. Professora de Direito Constitucional II da Graduação em Direito da UNISINOS e de “Fundamentos Éticos do Direito” no Programa de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS. Orientadora de Mestrado e de Doutorado. Autora dos livros: Ativismo Judicial e Grupos Estigmatizados: Filosofia Constitucional do Reconhecimento. Curitiba: Juruá, 2014 e 2015 (2.ed ampliada) e Patriotismo Constitucional: Jürgen Habermas e a Reconstrução da Ideia de Nação na Filosofia Política Contemporânea. Curitiba: Juruá, 2015.

Trabalho resultante da coordenação do Projeto de Pesquisa intitulado “Judicialização, Constitucionalismo Democrático e Direitos Fundamentais de Minorias LGBT: uma reflexão à luz dos contextos brasileiro e norte-americano.” (Chamada Universal/ MCTI/ CNPq n. 14/2014).
Esse trabalho é também resultado da coordenação de um segundo Projeto de Pesquisa aprovado pela FAPERGS/RJ, intitulado “Judicialização, Deliberação e Minorias LGBT: uma reflexão sobre os contextos brasileiro e norte-americano.” (Edital Pesquisador Gaúcho 2014).

Referências

BALKIN, Jack; SIEGEL, Reva. Principles, Practices and Social Movements. University of Pennsylvania Law Review. Philadelphia, Vol. 154: 927, p. 927-950, 2006.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 845779. Procuradoria Geral da República. Voto do Ministro Relator, Luís Roberto Barroso. Data de julgamento: 19 de novembro de 2015. Disponível em:<http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2015/11/Transexuais- RE-845779-Anota%C3%A7%C3%B5es-para-o-voto.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2015.

BENJAMIN, Harry. The Transsexual Phenomenon. Symposium Publishing, Düsseldorf, 1999. Originalmente publicado por The Julian Press Publishers, New York, 1966. Disponível em: <http://www.mut23.de/texte/Harry%20Benjamin%20% 20The%20Transsexual%20Phenomenon.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2015.

BENTO, Berenice e PELÚCIO, Larissa. Despatologização do gênero: a politização das identidades abjetas. Estudos Feministas, 20 (2), Florianópolis, 2012, p. 569-581.

BENTO, Berenice. AReinvenção do Corpo: Sexualidade e Gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.

BUNCHAFT, Maria Eugenia. Ativismo Judicial e Grupos Estigmatizados. Filosofia Constitucional do Reconhecimento. Curitiba: Juruá, 2014.

BUNCHAFT, Maria Eugenia. Ativismo Judicial e Grupos Estigmatizados. Filosofia Constitucional do Reconhecimento. Curitiba: Juruá, 2015.

CASTEL, Pierre-Henri. Algumas reflexões para estabelecer a cronologia do “fenômeno transexual”. Revista Brasileira de História. São Paulo, vol, 21, n. 41, p. 77-111, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbh/v21n41/a05v2141.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2015.

DIOGO, Cida. Projeto de Lei 2976/08. Acrescenta o art. 58-A ao texto da Lei 6.015 de 31 de Dezembro de 1973, que dispõe sobre registros públicos. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=386164>. Acesso em: 13 out. 2013.

ELKIND, Diana. The Constitutional Implications of Bathroom Acess Based on Gender Identity: An examination of Recent Developments Paving the Way for the Next Frontier of Equal Protection. Journal of Constitutional Law, vol. 9, n. 3, 2007, p. 895-928. Disponível em: <https://www.law.upenn.edu/journals/conlaw/articles /volume9/issue3/ Elkind9U.Pa.J.Const.L.895(2007).pdf>. Acesso em: 02 jan. 2016.

ESTADOS UNIDOS. Suprema Corte. Petitionfor the Writ of Certiorari. Roe v. Wade. 410 U.S. 113 (1973).Jane Roe, et al., v. Henry Wade, District Attorney of Dallas County.Opinião Majoritária: Justice Harry Blackmun. Washington, Districtof Columbia. Julgado em 22 de janeiro de 1973.

FASCIOLI, Ana. Justicia Social em clave de capacidades y reconocimiento. Areté- Revista de Filosofia, vol. 33, n. 1, p. 53-77, 2011.

FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na era pós-socialista. In: SOUZA, Jessé (org.). Democracia Hoje. Novos desafios para a teoria democrática contemporânea. Brasília: Editora UNB, 2001.

FRASER, Nancy. Distorted Beyound all Recognition: A Rejoinder to Axel Honneth. In: FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition? A Political Philosophical Exchange. London: Verso, 2003b.

FRASER, Nancy. Justice Social in the Age of Identity Politics.In: FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition? Political Philosophical Exchange.London: Verso, 2003a.

FRASER, Nancy. Prioritizing Justice as Participatory Parity. A reply to Kompridis and Forst. In: OLSON, Kevin (ed.). Adding Insult to Injury: Nancy Fraser debates her critics. London: Verso, 2008.

FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? In: SOUZA, Jessé; MATTOS, Patrícia. Teoria Crítica no Século XXI. São Paulo: Annablume, 2007.

FRASER, Nancy. Recognition without Ethics? Theory, Culture & Society, vol 18, n. 2-3. London: Sage Publications, 2001.

FRASER, Nancy, Redistribution, Recognition and Participation: Toward an Integrated Conception of Justice. World Culture Report, 2000, Cultural Diversity, Conflict and Pluralism. UNESCO Publishing, 2000, p. 48-57.

FRASER, Nancy. Repensando a questão do reconhecimento: superar a substituição e a reificação na política cultural. In: BALDI, César Augusto (org). Direitos Humanos na Sociedade Cosmopolita. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

FRASER, Nancy. Rethinking the Public Sphere: a Contribution to the Critique of Actually Existing Democracy. In: CALHOUN, Craig. Habermas and the Public Sphere. Cambridge: Mit Press, 1992.

FRASER, Nancy. Reenquadrando a Justiça em um Mundo Globalizado. Lua Nova, São Paulo, 77, p. 11-39-2009.

FRASER, Nancy. Scales of Justice: Reimagining political space in a globalizing world. New York: Columbia University Press, 2010.

FRASER, Nancy. Transnationalizing the Public Sphere: on the Legitimacy and Efficacy of Public Opinion in a Post-Westphalian World.In: FRASER, Nancy. Transnationalizing the Public Sphere. Massachusetts: Polity Press, 2014.

FRASER, Nancy. Unruly Practices: Power, Discourse and Gender in ContemporarySocial Theory.Minneapolis: University of Minnesota Press, 1989.

FRASER, Nancy. What’s Critical about Critical Theory? In: MEEHAN, Johann (ed.).Feminist Read Habermas: Gendering the Subject of Discourse.New York: Routledge, 1995.

GERMANO, Idelva Maria Pires; SAMPAIO, Juliana Vieira. Políticas Públicas e Crítica Queer: algumas reflexes sobre identidade LGBT. Psicologia e Sociedade, 26 (2), 290-300, 2014.

GREENHOUSE, Linda; SIEGEL, Reva.Before and After Roe v. Wade: New Questions about Backlash. Yale Law Journal, Cambridge, v. 120, 2011. Disponível em: <http://heinonline.org/HOL/LandingPage?handle=hein.journals/ylr120&div=60&id =&page>. Acesso em: 03 fev. 2012, p. 2031.

HONNETH, Axel.Between Justice and Affection: The Family as a Field of Moral Disputes. In: Disrespect: The Normative Foundations of Critical Theory. Cambridge: Polity Press, 2007.

HONNETH, Axel. Between Aristotle and Kant. In: Disrespect: The Normative Foundations of Critical Theory.Cambridge: Polity Press, 2007.

HONNETH, Axel. Democracia como Cooperação Reflexiva. John Dewey e a Teoria Democrática hoje. In: SOUZA, Jessé (org.). Democracia hoje - Novos desafios para a teoria democrática contemporânea. Brasília: UNB, 2001.

HONNETH, Axel. El Derecho de La Libertad. Madrid: Katz, 2012.

HONNETH, Axel. Invisibility: on the epistemology of recognition. In: Supplement to

the Proceedings of the Aristotelian Society, volume 75, n. 1, 2001.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Ed. 34, 2003a.

HONNETH, Axel. O direito da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2015.

HONNETH, Axel. Recognition or Redistribution? Changing Perspectives on the Moral Order of Society. Theory, Culture & Society, vol 18, n. 2-3. London: Sage Publications, 2001.

HONNETH, Axel. Redistribution as Recognition: a Response to Nancy Fraser. In: FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition. Londres/New York: Verso, 2003b.

HONNETH, Axel. The Point of Recognition: A rejoinder to the rejoinder. In:FRASER, Nancy; HONNETH, Axel. Redistribution or Recognition. Londres/New York: Verso, 2003c.

HONNETH, Axel. The Critique of Power – Reflective Stage in a Critical Social Theory. Cambridge: MIT Press, 1991.

HONNETH. Axel. The Social Dynamics of Disrespect: On the Location of Critical theory Today. In: Disrespect: The Normative Foundations of Critical Theory.Cambridge: Polity Press, 2007.

JARAMILLO, Leonardo García. ¿Cómopensar hoy la tension entre Constitucionalismoy Democracia? Uma Perspectiva desde el Constitucionalismo Democrático.Revista da Faculdade de Direito da UFPR. Curitiba, vol. 60, n. 2, p. 67-95, 2015. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/direito/ article/view/41005>. Acesso em: 13 jan. 2015.

KOKAY, Erica. Projeto de Lei da Câmara 4.241/12. Dispõe sobre o direito à identidade de gênero. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=552237>. Acesso em: 13 out. 2013.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Saraiva, 2010.

LIMA, João Paulo. Projeto de Lei da Câmara 1.281/11. Dispõe sobre a mudança de prenome da pessoa transexual que realizar cirurgia para troca de sexo. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=5014 25>. Acesso em: 13 out. 2013.

MONEY, John. Gender: History, theory and usage of the term in Sexology and its Relationship to Nature. Journal of Sex and Marital Therapy. 11: 2, p. 71-79, 1985.

MONEY, John. Hermaphroditism, Gender and Precocity in Hyper- adrenocorticism: Psychologic findings. Department of Psychiatry. The John Hopkins University School of Medicine. Baltimore, 1955.

NEVES, Marcelo. Transconstitucionalismo. São Paulo; Martins Fontes, 2009. NICHOLSON, Linda. Interpretando o gênero. Revista de Estudos Feministas. Santa

Catarina, v. 8, n. 2, p. 9-41, 2000.

RIOS, Roger Raupp; RESADORI, Alice Hertzog. Direitos Humanos, Transexualidade e “Direito dos banheiros”. Direito & Praxis, vol. 6, n. 12, p. 196-227, 2015. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view /16715>. Acesso em: 01 jan. 2016.

RODRIGUES, Romero. Projeto de Lei do Senado 658/11. Reconhece os direitos à identidade de gênero e à troca de nome e sexo nos documentos de identidade de transexuais. Disponível em <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes. asp?p_cod_mate=103053>. Acesso em: 13 out. 2013.

SARMENTO, Daniel. Livres e Iguais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

SCHMIDT, Daniella A. Bathroom Bias: Making the Casefor Trans Rights under Disability Law. Michigan Journal Gender & Law, vol. 155, issue 1, 2013. Disponível em: <http://repository.law.umich.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1033&contextv= mjgl>. Acesso em: 12 dez. 2015.

SOBBOTKA, Emil; SAAVEDRA, Giovani. Justificação, Reconhecimento e Justiça: tecendo Pontes entre Boltanski, Honneth e Walzer. Civitas. Porto Alegre, v. 12, n. 1, 2012.

SPADE, Dean. Resisting Medicine, Re/Modeling Gender. Berkeley Women’s Law Journal, California, vol. 18, n. 1, p. 34-35, 2003. Disponível em: . Acesso em: 02 fev. 2016.

STEILEN, Matthew. Minimalism and Deliberative Democracy: A Closer Look at the Virtues of “Shallowness”. Seattle University Law Review, Seattle, vol. 33, n. 2, p. 391-435, 2010. Disponível em: <http://digitalcommons.law.seattleu.edu/cgi/view content.cgi?article=1981&context=sulr>. Acesso em: 02 fev. 2016.

STEIN, Ernildo. Sobre a essência do fundamento. Conferências e escritos filosóficos de Martin Heiddeger. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

STOLLER, Robert. A experiência transexual. Rio de Janeiro: Imago, 1982. SUNSTEIN, Cass. One Case at a Time: Judicial Minimalism on the Supreme Court.

Cambridge: Harvard University Press, 1999.

SUNSTEIN, Cass. Constitutional Personae. Oxford: Oxford University Press, 2015.

POST, Robert; SIEGEL, Reva. Roe Rage: Democratic Constitutionalism and the Backlash. Harvard Civil Rights - Civil Liberties Law Review, Cambridge, v. 42, n. 2, p. 379.2007. Disponível em: . Acesso em: 03 fev. 2009.

WERLE, Denilson; Melo, Rúrion. Um déficit político do liberalismo hegeliano? Autonomia e reconhecimento em Honneth. In: MELO, Rúrion. A Teoria Crítica de Axel Honneth-Reconhecimento, Liberdade e Justiça. São Paulo: Saraiva, 2011.

WYLLYS, Jean; KOKAY, Erica. Projeto de Lei 5.002/13. Dispõe sobre o direito à identidade de gênero e altera o art. 58 da Lei 6.015 de 31.12.1973. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=56531 5>. Acesso em: 04 abr. 2013.

Downloads

Publicado

2020-11-03

Como Citar

Bunchaft, M. E. (2020). O “DIREITO DOS BANHEIROS” NO STF: CONSIDERAÇÕES SOBRE O VOTO DO MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO NO RE N. 845779 COM FUNDAMENTO EM POST, SIEGEL E FRASER. Constituição, Economia E Desenvolvimento: Revista Eletrônica Da Academia Brasileira De Direito Constitucional , 8(14), 143–174. Recuperado de https://abdconstojs.com.br/index.php/revista/article/view/134

Artigos Semelhantes

<< < 2 3 4 5 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.